segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Sound of silence"

As voltas que a vida dá, e como o impensável passa a indispensável!
Não me alongo. A paciência, se vossa é pouca, a minha é inexistente.
Ainda bem que há refúgios....



Ânsia

Um dia abro-te a porta,
Mostro-te o caos e a entropia.
Deixo cair a máscara de natureza-morta
E serei verdadeiro. Quero esse dia!

Anseio por esse momento,
Pródigo, porém distante...
Longe, não (apenas) no tempo,
Mas na imaginação, errante.

Confio, coisa rara, contudo
Que chegará, inaudito.
Filho de choro e grito,
Doloroso, não me iludo...

Quando chegar, voarei
Chorarei lembranças e estórias,
Passados e futuros contemplarei.
Provarei a matéria-prima das memórias.

Anseio sofregamente
Esse tudo ou nada.
A queda do indiferente
A verdadeira catarse consagrada.


Nesse dia, calar-te-ei um segredo ao ouvido.
Silêncio, por favor...


Tito Xavier da Costa






[Tendo em conta o facto de este blogue ser feudalmente meu, creio poder dar-me ao luxo de inserir aqui um pequeno post-scriptum. Inspiração para o poema que haveis lido, ignoro a sua proveniência. Posso porém, sobrescritar e dedicá-lo a alguém. Faço-o agora.]
Para quem primeiro o leu

segunda-feira, 22 de março de 2010

Eu desisto, já não me entendo. E vão três.



O sótão

És fumo, névoa
Vapor, quimera.

Incógnita e incorpórea,
Deambulas etérea.

És imaginação, obviamente
Miragem, latente.

Passeias no meu pensamento
És minha dona a qualquer momento.

Qual mensagem subliminar
Apoderas-te sem eu notar.

Cravas tua marca em mim
Como se o direito fosse teu.
Idiossincrática assim
Como resistiria eu?

Perante ti,
Indefeso de lés a lés.
E as muralhas que construí
Caem, invariavelmente, a teus pés.

Para quê fugir?
Tarefa fútil, inglória.
E repete-se novamente a história
Voltaremos sempre a sucumbir.

Sísifo, o próprio, diria:
«É só mais um dia, é só mais um dia»




Tito Xavier da Costa





A. Tendência. Mantém-se.

terça-feira, 9 de março de 2010

Again?

Bem, há dias assim, em que nos surpreendemos a nós próprios em proporções épicas!

Pois não é que eu, biltre e trafulha personagem, novamente deixei que o verso invadisse?!

Pensei que que era um daqueles fenómenos esporádicos, muito raros... Provavelmente, até, algo com uma qualidade de «one time around affair»... Enganei-me.



E hoje, não me apetece dizer mais.

Aqui fica:









Ordem




Corta-me dessa forma só tua.
Rasga em mim com a mestria de quem ama!
Centra na minha pessoa tua raiva, e depois amua,
Faz sentir que alguém me chama.


Ferve-me ao expoente da loucura,
Sublima minha sanidade.
Dança no vapor, inspira-o com ternura,
Cai, chora e berra, adivinha-se a saudade...


Cria-me novo, e destrói-me
Nessa tua alquimia, sadicamente apaixonada
Dá-me asas! Quero voar! Ensina-me!
Quebra-as, deixa-me sem nada.


Dilui-me no solvente que és,
Centrifuga-me até à exaustão.
E então, descansa.
E trasnpira o nosso «amor-destruição»...





Tito Xavier da Costa











A tendência mantém-se, não há citações.

Amanha, talvez.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

É isto...

É com alguma surpresa que me encontro aqui, novamente, a escrever umas palavras, tão pouco tempo passado desde a minha última intervenção neste espaço. Desta feita, na língua materna, traiçoeira, segundo dizem, mas libertadora por vezes.

Deixo-vos, pobres almas que, por mero acaso do destino ou simples erro informático aqui parastes, com uma primeira incursão no verso.





Olhar cego


Mordaça cruel,
Verdade nua, crua, infinitamente presente
Em tempo e contratempo, dormente
Rude, estúpida, persistentemente fiel.


Palidez de alma, empedernida,
Incomensurável, desmedida.


Que faz por fazer.
Sente, será que sim?
Mente, certamente, em mim,
Essa idiota maneira de ser.


Vazio oculto, escondido,
Manto clemente, refúgio sofrido.


Doce, esse abraço unicamente teu
Frio, cortante porém.
Igual a nada, devido a ninguém
Foda-se, e eu?


Cacofonia geral que ao lado me passa
Como que despercebida, a mais não almeja...
Incólume, impune fico, faça
O que fizer, tudo ou nada seja



Dor? Dor maior não há
Que a de a não sentir, sabendo-a lá.


Tormenta, pela indiferença
Essa dama de ferro, tortura.
Grilhão, guilhotina, doença
Ausência absoluta de loucura.


Inocência disfarçada
Cobiçada
Por querer, não quer
Isto, aquilo, uma merda qualquer!



Tito Xavier da Costa







Hoje não cito ninguém!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

The Noose of Indifference

It is with great pleasure that I find myself willing to write again. In the wee hours of the morning, the Sun yet to show itself in this time zone, GMT, I've been told...

The subject, this time, has a tad bit less of a nonsense quality than the previous text. However, I will let you, whoever you are, to be the judge of how much sense this really makes-an educated guess could be «not much».

Funny thing, indiference. It has a way of creeping up on you, inconspicuously settling itself on the back of your mind, waiting patiently for the right moment to overcome any sense of understanding or simpathy you may have. And then, when the proper moment comes, and the spark that should set you off to a rath filled rampage is there, and, by all means, you should go utterly berserk... Nothing. No anger, no fury. Not even a slightly tight upper lip, or a hand clenched into a fist. Nothing! The adequate behaviour, or at least the natural, fails to exist.

Emptyness, nothing but a cold indifference when, in fact, volcanoes should be erupting fiercely. No thunderstorm, tsunami or earthquake. Not even a slight breeze, for fuck sake!
You're left the cold feeling of not giving a flying fuck, of just not being bothered in the least by that firestarting event, whatever sort it may be.

The only feeling left is the touch of cold, bitter indifference, grabing you by the neck, and even the gallows from which it hangs you fail to hassle you...

Scary.
A firing squad, shooting your emotions at dawn.

«Any last words?»
«No. Tie my fucking blindfold, light my cigarrette and let's get on with the bloody thing!»

«Ready! Aim! Fire!»



Now, as usual, something worth reading:

Já não me importo

Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

Fernando Pessoa


"A man may fight for many things: his country, his principles, his friends, the glistening tear on the cheek of a golden child. But personally, I'd mudwrestle my own mother for a ton of cash, an amusing clock and a stack of French porn."

Edmund Blackadder in «Blackadder III»